Tenho nas últimas semanas escrito sobre os benefícios alcançados através do aprendizado musical, aliado à beleza e à magia da música, especialmente para as crianças, os adolescentes, em fase de formação. Mas desta vez quero me deter em narrar os ganhos da presença da música na vida dos idosos.

São inegáveis os benefícios que a música proporciona aos idosos, como em todas as idades. Seja através dos estímulos de caminhar com a música, cantar ou tocar um instrumento, estas atividades exigem uma atividade cerebral, ampliando o trabalho das sinapses e conexões cerebrais. Além disto, pode melhorar o humor, a socialização, a expressão corporal, o convívio–social, a auto-estima, a capacidade de se expressar, a criatividade, e até mesmo manter a memória em atividade.

Gostaria de contar à vocês o que vivenciei anos atrás, durante estágio no Instituto Jaques Dalcroze, em Genebra.

Tive a alegria e o previlégio de assistir e participar ativamente das aulas, com a ilustríssima professora Ruth Gianadda. Eu já conhecia esta professora, seu trabalho no IJD, como é chamado, durante outra visita prévia ao Instituto, assim como em congressos da Pedagogia Dalcroze que eu havia participado. Mas as aulas nestas classes, apresentam um outro universo, que até então eu não tinha experimentado. Já tinha ouvido falar dos trabalhos em musicoterapia e dança senior, e sempre tive grande respeito por estes profissionais, por sentir a grandeza e importância de seu trabalho, mas outra coisa é viver uma experiência como esta que vou lhes contar. E foi assim que eu presenciei o início deste trabalho inédito que revolucionou a vida de muitas idosas que voltaram ao Instituto Jaques Dalcroze não mais para acompanhar seus filhos e netos, mas para manter um encontro semanal nas aulas de rítmica! Com direito à um social pós-aula, na charmosa casa de chá que fica ao lado do IJD na Rue de la Terrassière 44, Genebra, Suíça.

Entre 2009-2010, haviam mais de cinquenta senhoras inscritas em oito cursos. O trabalho despertou o interesse da comunidade médica, científica, na questão de profilaxia. Por exemplo, a questão da marcha irregular em idosos, que é considerado o maior fator de queda para estes. As modificações realizadas na firmeza da marcha, conseguidas através dos exercícios propostos nas atividades da Rítmica, com a música adequada ao movimento, improvisada ao piano, que despertava o interesse auditivo e a curiosidade cerebral para embalar o movimento, era fundamental e surgia como algo completamente novo para a vida dos idosos, em termos de prevenção, com resultados tão positivos.

Sabemos que a rítmica apela às diferentes atividades intelectuais, afetivas e motoras. O fato de existir a música improvisada ao piano, que representa o novo, ao mesmo tempo que a professora-pianista, é capaz de resgatar as memórias afetivas destas senhoras-alunas, com apelo direto à memória das mesmas, faz toda a diferença. A professora Dalcroze com estas habilidades, passa por um treinamento rigoroso, e é chamada de rythmiciens.

A música, a alegria e o prazer que envolvem os exercícios-rítmicos propostos de acordo com cada atividade, conduzem as ações motrizes, criando desta forma progressos significativos na mobilidade, na coordenação, na concentração. Os efeitos benéficos se notam da mesma maneira no âmbito psico-social, como a confiança em si mesmo e a convivência, diminuindo o isolamento dos idosos.

De toda a pesquisa realizada com os professores, médicos e hospitais geriatras reunidos neste projeto, foi escrito um belo livro, de onde fiz algumas citações acima, com a descrição completa de todos os estágios desta pesquisa iniciada em 2004, que recomendo como leitura à quem se interessar por este trabalho: La Rythmique Jaques-Dalcroze, un atout por les seniors. Document rédigé par Marianne Wahli-Delbos en collaboration avec Silvia Del Bianco, Ruth Gianadda et Gabi Chrisman. Editions Papillon.