Dalcroze na minha vida: chegou firme e forte!

Todo mundo que me conhece sabe o quanto sou apaixonada por esta Pedagogia. Chegou na minha vida quando eu estava no início de carreira, sob a influência da prof Elza Bianchini. Bons anos depois, em estudos na cidade de New York, conheci Doctor Bob ou Robert Abramson, Bob-Abramson como todos o chamavam. Professor da Juilliard School of Music: e ali, em uma aula como eu nunca tinha assistido igual, percebi que era um caminho sem volta!

A música vivenciada através do movimento, com estímulos vindos da própria execução musical, da improvisação, onde a resposta a esses estímulos, primeiramente é dada pelos sentidos, através dos nervos e músculos em movimento. Para só depois existir a intelectualização, a compreensão raciocinada da teoria, harmonia, rítmo.

Vejamos aqui umas citações do próprio mestre e compositor Dalcroze, e de Piaget, na introdução do livro de Marie Laure Bachmann: “La rythmique Jaques-Dacroze: une éducation par la musique et pour la musique.” Aqui a autora retrata uma conversação imaginária entre três personalidades desta época: Jaques Dalcroze, Jean Piaget e Alvin Toffler. Vale a pena a leitura deste livro na íntegra. Conheci Marie Laure Bachmann durante as aulas, congressos e – cours d’été – do Instituto Jaques Dalcroze em Genebra nos anos de 2006, 2013 e 2015. Quero aqui também citar as experiências que vivi com as aulas da metodologia de Jaques Dalcroze com o prof. Iramar Rodrigues, em seus cursos ministrados aqui no Brasil, assim como em Genebra.

“Senhores, esta é a pergunta que me coloco há muito tempo: não seria possível estabelecer comunicações mais diretas entre os sentidos e a mente, entre as sensações que avisam a inteligência e os sentidos recriados pelos meios sensoriais de expressão? Todo pensamento é a interpretação de um ato. Ou você discorda de mim?” Jaques Dalcroze.

“Todos admitem que a inteligência começa por ser prática ou sensório-motriz, e então gradualmente se internaliza no pensamento propriamente dito, e reconhece que sua atividade é uma construção contínua.” Piaget.

“Em outras palavras, a criança só sente o seu pensamento despertar quando teve experiencias sensoriais.” Jaques Dalcroze.

Estas e outras tantas afirmações e situações práticas descritas vêm de encontro a minha experiência e convicções dentro da educação e ensino musical: todo aprendizado deve ser fundado sobre a experiência corporal, auditiva e sonora, onde o aluno com sua vivência executa, experimenta e tira as suas conclusões. Com o passar do tempo, cria ele próprio, juntamente com o seu professor e seu instrumento, as condições próprias ao seu desenvolvimento, onde elementos como técnica, leitura, audição, repertório, criatividade e improviso, passam à ser a expressão e o reflexo do seu desenvolvimento e amadurecimento musical.